Profissional De Vendas Ou Vendedor?
Profissional de vendas ou vendedor são similares, apenas muda a conotação coloquial para o termo vendedor, que muitas vezes é pejorativa. Durante muito tempo as práticas comerciais levaram a muito profissionais de vendas adotarem uma postura anti-ética, com o intuito de efetuar a venda em si. Tal postura criou uma imagem de desonestidade para tal profissional, a qual está sendo reformulada. Entretanto, de um modo ou de outro, somos todos vendedores, independentemente da nossa área de atuação profissional; uma análise imparcial da sociedade mostra que todos vendem algo, uma modelo vende a sua imagem, um artista vende uma peça de arte ou um dom artístico, um executivo vende o seu conhecimento, um professor vende os seus ensinamentos, uma mãe vende o seu amor, uma flor vende a sua beleza e um animal vende o seu carinho. Provavelmente, com a amplitude do conceito de vendas nos dias atuais, o termo deveria ser troca e não venda, apesar de serem similares também. Falando sobre negócios, e deixando de lado a sociologia, muito mudou nos últimos 20 anos no Brasil; o desaparecimento dos grandes magazines tradicionais (Mesbla, Mappin e G. Aronson) nos anos 90, o crescimento da economia, a crise recente, a evolução das tecnologias de informação e o corporativismo. O comportamento do consumidor também mudou, antigamente a sensação era de que o consumidor necessitava da empresa, provavelmente, devido ao fato de que haviam poucas opções; hoje, a empresa necessita do consumidor, pois há uma gama de possibilidades imensa no mercado, inclusive a de não sair de casa e comprar pela internet. Ainda no quesito Internet e outros meios de comunicação de massa, o consumidor hoje possui informações das mais variadas sobre os produtos, suas caracteríscas, seu preço e as localidades de aquisição, podendo assim escolher onde comprar devido ás suas necessitades, sejam psicológicas, logísticas ou econômicas. Com a estabilização da economia e, também, a baixa das moedas estrangeiras (relativo à tempos passados), a concorrência é muito grande em relação aos produtos importados sejam eles uma caneta fabricada na China à uma peça de joalheria francesa. A tendência de fusões empresariais, cria uma necessidade de especialização e treinamento do departamento de vendas para melhor atender aos seus clientes que são cada vez mais exigentes e de culturas diversas. Com todas estas mudanças e esta enorme necessitade de especialização, surge a Engenharia de Vendas.
O vendedor, como profissão, é uma das mais antigas da história, onde no começo baseava-se em trocas e não em valores monetários. A princípio o vendedor não passava de um viajante que ia de cidade em cidade vendendo os seus produtos e hospedando-se em tavernas ou casas de família, desde que ainda não haviam locais hoteleiros. Por não possuírem muitas opções de carreira, acabavam como vendedores, caixeiros-viajantes, e não eram bem quistos. Com o crescimento da população e a industrialização, consequentemente, a urbanização, o vendedor cresce e torna-se mais digno. Das técnicas e métodos de vendas surge o Marketing, que nada menos é a área profissional que tem como meta pesquisar mercados e estratégias para apresentação e venda de produto ou serviço, levando em conta público-alvo e produto. Infelizmente, alguns profissionais de vendas, também de marketing, não agem e não agiram de forma ética, provocando uma imagem extremamente desconfortável para ambas as áreas, que, afinal, estão diretamente ligadas, seja do departamento de vendas ou marketing ao vendedor de contato direto ao público. Obviamente, a construção de uma imagem demanda um enorme período de tempo, entretanto a descredibilização de uma imagem é basicamente instantânea. Estes fatores indicam a necessidade de mudar esta imagem negativa, que não será fácil nem rápida, porém necessária; através da seleção de profissionais adequados e de treinamentos efetivos.
O desaparecimento dos grandes magazines tradiconais, como Mappin, Mesbla e G. Aronson, nos anos 90, tornaram possível o crescimento das pequenas redes nacionais, normalmente localizadas no interior dos estados brasileiros. Também, a crise do “apagão” brasileiro e a recente crise mundial (resultou no incentivo do governo brasileiro ao mercado de consumo, principalmente atráves da redução do IPI de eletrodomésticos e automóveis, a facilidade de crédito e a baixa dos juros), contribuíram para o crescimento das pequenas redes de varejo. Estas redes aproveitaram para adquirir os pontos de venda daquelas que não aguentaram as crises e assim diminuíram a concorrência; possuem mais lojas, podendo negociar melhores preços com os fornecedores, aumentando as suas vendas. Em um momento atual ocorre a era das fusões, onde em busca de neutralizar a concorrência, redes juntam-se para formar blocos mais competitivos e estrategicamente localizados. Desde que estamos falando em varejo, estamos falando em vendedores diretos e compradores mais dinâmicos; os vendedores diretos são a força de vendas ligados diretamente ao público, e são responsáveis pela venda em si e necessitam saber quais as necessidades e possibilidades do público, onde para adquirir isto é necessário treinamento; e os compradores são aqueles que estão dentro das empresas adquirindo os produtos, e que tem um papel importante no relacionamento com os fornecedores afim que conseguir melhores preços e prazos de pagamento. Um dado curioso, é o fato de que todas as grandes redes de varejo existentes hoje, vieram de pequenas lojas, onde os donos originais que iniciaram o negócio como vendedores, no interior dos estados; e com o tempo foram crescendo, comprando outras lojas e redes e fundindo com outras redes.
O comportamento do consumidor foi o que mais mudou nos últimos tempos. O comércio digital faturou dois bilhões e trezentos milhões de reais no primeiro trimestre de dois mil e nove; e é responsável por trinta por cento, em média, do faturamento de grandes empresas de varejo. A opção de compra em casa é realmente tentadora, também, pelo fato de que exige menos custos fixos do que uma loja física, resultando em preços mais baixos. Oitenta e seis por cento dos usuários do comércio eletrônico aprovam as compras efetuadas. Pode-se dizer que a Internet tornou-se um vendedor digital, disponível há qualquer hora e em qualquer lugar. Não significa que o profissional de vendas desaparecerá, afinal nem todos tem acesso às tecnologias e muitos gostam ainda do contato pessoal com o produto e com o vendedor; mesmo no caso de não haver venda direta é necessário um profissional de vendas para efetuar compras, determinar produtos, valores e pagamentos. A questão não é a Internet ocupar as vagas de emprego e sim ela ser mais um canal, entretanto também indica que o vendedor tradicional terá que aprimorar-se, conhecer melhor os seus produtos e os seus clientes, seja no varejo ou no atacado, ou até nos bens não consumíveis e nos serviços. O famoso “papo” de vendedor tornou-se uma arma contra a venda, o consumidor conhece os produtos e os preços (através dos meios de comunicação), o que quer é transparência, vantagens, preço e marca, fora o pré, durante e pós venda funcionais. As empresas precisam do cliente e não mais o cliente precisa delas.
Houveram muitas crises na indústria brasileira, provavelmente uma das piores foi a abertura do mercado às importações do início do governo Collor, onde foram retiradas as alíquotas de importação e houve o congelamento das contas bancárias privadas. A indústria brasileira não podia competir com os produtos importados que possuíam um preço igual ou menor e qualidade superior. Após esta fase, a indústria especializou-se e conseguiu produzir melhores e mais baratos produtos. A criação do Real e a estabilização da economia, criaram outra questão, o Real igualou-se ao Dólar e a inflação diminuiu drasticamente levando à possibilidade de importações em massa. Houve, também, a industrialização da China que cresceu muito rápido devido ao baixo custo de produção, onde muitas empresas começaram a produzir; obviamente, enfrentam questões de adaptação como a baixa qualidade. A concorrência aumentou, a qualidade e os preços eram semelhantes, a imagem das empresas nacionais não estavam tão positivas do que as estrangeiras e a qualidade do treinamento de vendas empregado pelas empresas estrangeiras era melhor. Os profissionais de vendas brasileiros passaram por uma re-formulação, foram treinados e recrutados de modo que pudessem acompanhar estas mudanças. O vendedor ou profissional de vendas passa a ter um novo papel na venda, na verdade, é um papel que sempre foi dele, porém não havia motivos para ser melhor, não havia tanta competividade antes. Este novo papel será de amar o que faz, aprender com os erros, buscar desafios, atualizar-se sempre, conhecer o mercado, conhecer o produto, conhecer os concorrentes, conhecer o consumidor, focar no consumidor, ser determinado, ser inovador, possuir uma rede relacionamentos e interagir com tecnologia. As características destes profissionais passam a serem identificadas em sistema de valores, teórico, vontade de conhecer pessoas; de informatização, usa a tecnologia para aumentar vendas, reduzir custos, conquistar clientes e reter clientes; estético, desejo por formas e harmonia; social, vínculos são apreciados, tendo o desejo de dar aos outros, mesmo que às custas de si mesmo; político, deseja o poder; e regulatório, regulamentações e princípios são de enorme valor. Nestes últimos 20 anos, muitas coisas mudaram e os profissionais também devem mudar, principalmente no Capitalismo que gira em torno de vendas seja de produtos, serviços ou informações.
O último fator relevante na análise do profissional de vendas é a tendência de fusões corporativas. Sempre houveram fusões entre empresas, porém nos últimos dez anos aumentaram consideravelmente. Estas fusões têm como intuíto criar um grande conglomerado corporativo, seja para a diversificação de produtos, aquisição de pontos de venda estratégicos, reestruturação financeira e/ou bloqueio de concorrência. Muitos acreditam que com a fusão os seus posicionamentos nas empresas estarão em risco, entretanto as fusões são administrativas e os profissionais devem adaptar-se às novas diretrizes, inclusive é uma excelente oportunidade para aperfeiçoamento através de atualizações e treinamentos. Tais fusões são, normalmente, realizados por questões demográficas e/ou diversificação de produtos, sendo uma excelente fonte de diversidade cultural e profissional. Os profissionais de vendas estarão trabalhando em âmbitos nacionais e internacionais, com produtos diversos, podendo absorver uma cultura mais ampla e global; onde receberão treinamentos. Também terão de reconhecer os mais diversos grupos de consumidores e suas necessidades. As fusões agregam a possibilidade de crecimento, tanto para a empresa quanto para os profissionais, inclusive na área de experiências e cultura.
Estas novas necessidades do mercado fizeram com que surgisse a Engenharia De Vendas que possuí o intuito de ensinar e criar as novas diretrizes para as empresas buscarem e treinarem os seus funcionários do setor de vendas. O antigo vendedor terá que mudar para acompanhar a nova era da venda ou irá desaparecer. Os consumidores pesquisam na internet e acompanham os anúncios na televisão, nos jornais e nas revistas; pesquisam nas lojas físicas e virtuais pelo produto mais adequado para as suas necessidades e com melhor preço e logística. O ponto crucial da venda virtual contra a venda física é o vendedor; no ambiente virtual o vendedor é a página da Internet que deve possuir todos os dados necessários sobre os produtos e ainda possuir um sistema de logística dinâmico, onde o tratamento em relação ao consumidor é padrão para todos; no ambiente físico o vendedor é uma pessoa que muitas vezes é movido pelo sistema de comissões e tem o intuito apenas de efetuar a venda, causando, muitas vezes, situações desconfortáveis para o consumidor, entretanto, um moderno vendedor sabe que o importante não é somente a venda em si, mas a perpetuação da satisfação do cliente, o qual passará a fazer parte da sua carteira de clientes fixos e que, possivelmente, recrutarão outros clientes de seu âmbito pessoal e profissional. Os profissionais de vendas atuantes no âmbito interno das empresas têm como função descobrir quais são as necessidades e desejos do mercado, assim obtendo produtos, seja por fabricação própria ou por compra de outras empresas, adequados; outra função é a de manter um bom relacionamento com os seus fornecedores afim de conseguir melhor preços e prazos de pagamento, obtendo maior lucro para a empresa e menor preço para o consumidor. As fusões contribuem para estas negociações com fornecedores, desde que o volume de produtos comprados seja maior; entretanto, pode ser uma amardilha, pois devido ás questões demográficas, as necessidades e desejos mudam. As empresas de âmbito global, na sua maioria, possuem profissionais mais instruídos e treinados devido à uma mentalidade avançada, porém não nova. As empresas brasileira terão que investir cada vez mais no recrutamento adequado e no treinamento dos seus funcionários afim de neutralizar a concorrência estrangeira; desde que os seus produtos possuam a mesma qualidade, preço e logística. A vez é do consumidor e do profissional moderno; o consumidor irá definir as suas aquisições, sejam elas de matérias-primas até produtos finais, através de quem puder oferecer-lhe melhor atendimento e identificação, melhor conhecimento do mercado, melhor produto, melhor preço e melhor logística; o bom profissional de vendas será aquele melhor instruído e treinado, disposto a adotar as novas diretrizes de venda, onde muitas vezes terá que passar por cima de si mesmo afim de satisfazer o cliente. Muitas coisas mudaram e, pelo menos de certa forma no Brasil, mudaram para melhor, para os bons profissionais.
